sábado, 29 de setembro de 2012

Manipulação de informações estatísticas.

Não sei por que ainda leio os jornais do CFM/SIMERS/CREMERS. Na última edição há explicações "científicas" contra o parto domiciliar. Esse é um exemplo claro de como se pode manipular resultados estatísticos em prol do que bem quiser. Vamos colocar ordem nas coisas: 
  1. "Duas vezes maior é o número de mortes de crianças nos procedimentos realizados em casa. Artigo publicado no American Journal of Obstetrics and Gynecology encontrou uma taxa de morte neonatal de 0,2% (32 mortes em 16.500 nascimentos) em partos domiciliares planejados, comparada a 0,09% (32 em 33.302 nascimentos) em partos hospitalares." Por partes: O estudo é uma metanálise sobre partos planejados domiciliares versus hospitalares. Detalhes manipulados: Interessante a forma que a reportagem descreveu os riscos absolutos (0,2% e 0,09%). Para o primeiro, o arredondamento foi para mais (valor verdadeiro 0,194%) e para o segundo, o arredondamento foi para menos (0,096%). Mais: Falar apenas em Risco Relativo, sem discutir as magnitudes dos efeitos é outro truque. Ao dividirmos o risco de morte neonatal domiciliar (0,194%) pelo hospitalar (0,096%), realmente dá 2 (duas vezes mais risco de morte neonatal entre os partos domiciliares comparados aos hospitalares). O que não se discute é se o risco é grande o suficiente para tanto alarde - Menos de 1%. Ao se calcular a redução do risco absoluto, teremos (0,096 - 0,194) 0,098%, ou seja, seria reduzida uma morte para cada 1.000 partos. O NND (Número Necessário para causar Dano) calculado é de 1.022! Ou seja: São necessário 1.022 partos domiciliares para acontecer uma morte neonatal. Falando desta forma, a questão fica um pouco diferente, não? Só mais uma consideração: Só foi mostrado na reportagem esse resultado (supostamente) desfavorável - a propósito: o único do estudo -, e não que esse tipo de parto mostrou menores intervenções (incluindo necessidade de analgesia peridural, monitoramento de batimento cardíaco eletrônico fetal, episiotomias e cesarianas, além de menos lacerações, hemorragias e infecções. Também não houve diferença entre o risco de prematuridade, baixo peso, necessidade de ventilação fetal e de morte perinatal. 
  2. "Taxas de mortalidade perinatal e neonatal podem ser potencialmente aumentadas ao se optar pelos aparentes benefícios de um parto planejado em casa – incluindo os de caráter psicossocial e de menos intervenções médicas. Segundo estudo publicado no jornal Obstetrical & Gynecological Survey, em 2010, evidências sugerem que evitar o uso da tecnologia médica (como o monitoramento eletrônico da frequência cardíaca fetal, por exemplo) pode representar um importante fator de risco para óbitos perinatais e neonatais evitáveis." O próprio artigo cita que as taxas mais elevadas de mortalidade ocorreram nos estudos mais antigos, onde não havia um planejamento organizado na seleção das mulheres que pudessem ser candidatas ao parto domiciliar. Isso acabou por incluir gestantes não apenas de baixo risco, modificando o efeito dos resultados. Estudos mais recentes do Canadá não mostraram diferenças estatísticas nas taxas de mortalidade. Além disso, também cita num parágrafo final que "Por outro lado, partos domiciliares com parteiras/obstetrizes altamente treinadas , usando-se critérios rigorosos de seleção de gestantes oferece uma enorme probabilidade de excelentes efeitos para a mãe e recém nascido." Novamente só se escreve o que interessa do artigo.
SEGUE...

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